segunda-feira, 25 de maio de 2009

Meninos “maus”

O desenvolvimento de uma criança traz sempre mudanças no seu comportamento. 

Normalmente, todos pensamos que esse mesmo comportamento é problemático quando não vai ao encontro das nossas expectativas enquanto adultos, mas na verdade, um comportamento é considerado desadequado quando acontece frequentemente, quando é muito intenso e quando traz instabilidade para a criança e a família.

Por exemplo, uma criança de 2 anos poderá atirar-se para o chão, a gritar a bater com os pés no chão, porque lhe foi dito “não”; não será certamente um comportamento adequado mas, é provável que o faça; não o deve fazer aos 5 anos, pois tem já possui outras formas de se expressar (neste caso, de expressar o desagrado com a nossa decisão).

É aí que entra a importância dos limites.

 Viver em sociedade implica saber obedecer a regras e limites; todos nós obedecemos a alguém ou a algo: ao nosso chefe, ao polícia, ao tribunal… as regras e leis estabelecem o limite do nosso comportamento e ensinam-nos como viver em sociedade.

Os limites ensinam a criança a respeitar o próximo. Quando a criança sabe exactamente o que se espera dela e conhece os limites e as normas a cumprir, tem mais facilidade em corresponder.

Impor limites é saber dizer sim e não de forma positiva e coerente.

Aos pais

É natural que as crianças tenham algumas dificuldades em interiorizar as horas, em particular quando não têm as rotinas adquiridas (as rotinas são aquelas tarefas que fazemos quase diariamente e sensivelmente à mesma hora, como por exemplo, tomar banho antes de jantar, comer quase sempre à mesma hora, …).  

As rotinas ensinam à criança a noção da passagem do tempo e o que é esperado acontecer em cada altura do dia. Transmitem segurança (tal como as regras, mas estas deixamos para outra história).

Depois da hora

- Esperem por mim! Esperem… - Gritava o Bruno. O Bruno estava sempre atrasado; tinha sido assim desde o início e já todos sabiam. Na verdade já todos estavam habituados. 

O Bruno chegava depois da hora de entrada na escola, chegava atrasado ao almoço, chegava tarde às brincadeiras. Os amigos ainda tentavam ajudar o Bruno: combinavam às cinco da tarde e diziam-lhe às quatro, combinavam às cinco da tarde e chegavam às seis, mas nada dava resultado. Tinham sempre que esperar pelo Bruno.

É claro que o Bruno também perdia muito por chegar atrasado. No futebol, já todos tinham sido escolhidos e ele ficava com o último lugar (aquele que ninguém queria), nas festas já todos tinham comido os seus doces preferidos (e ele nem os chegava a provar) …

Ora o Bruno também não estava contente com a situação; afinal, ele ficava sempre com aquilo que os outros não queriam. 

Ninguém estava contente com a situação. Mas o Bruno também não a sabia resolver.

Um dia, na biblioteca, o Bruno viu um livro que tinha na capa um desenho de uma menina, um grande relógio e um coelho a correr. Ficou curioso e quando abriu o livro viu que o coelho se queixava muito de chegar sempre atrasado e corria muito para chegar a horas, mas por mais que corresse, nunca chegava à hora combinada.

Quer dizer, a história não era sobre o coelho, era sobre a menina e a grande aventura que viveu quando conheceu o coelho; mas o Bruno levou o livro para casa e ficou a ler a tarde toda. Estava tão distraído que nem ouviu a mãe a chamá-lo para jantar. E quando foi para a mesa, levou o livro com ele.

Os pais, curiosos para saberem o que estava a distrair o Bruno de tal modo que ele não queria deixar o livro pousado para poder comer, perguntaram-lhe o que se passava. E o Bruno contou; estava triste por ser sempre o último a chegar. 

“Bem, então vamos resolver isso”, responderam os pais. Compraram-lhe um relógio que tinha um alarme e tocava sempre que fossem horas importantes: horas de ir para a escola, horas de ir brincar, horas de ir almoçar, … O relógio tocava e o Bruno já sabia o que tinha que fazer. 

A partir desse dia, o Bruno era sempre o primeiro a chegar.

Bem, por vezes era o segundo ou o terceiro, mas já não era o último e ninguém tinha de esperar por ele.

Hiperactividade

Existem alguns comportamentos nas crianças que, embora possam estar presentes na hiperactividade, não são por si só um diagnóstico de Hiperactividade; esse diagnóstico tem que ser feito através da consulta de um médico especialista (como um neurologista) e da recolha de vários dados (relatórios dos comportamentos realizados pelos professores, psicólogos, terapeutas, …).

A importância de um diagnóstico correcto evita o arrastar de situações e o recurso a medicamentos que não resolvem os problemas (os medicamentos servem para quando são realmente necessários, e não para remediar situações).

- A Ansiedade pode afectar a atenção de uma criança porque esta pode estar preocupada com outros assuntos que não a deixam concentrar, aparentando estar distraída; deve-se tentar perceber se ela também adopta este comportamento quando está descansada. Isto porque a ansiedade pode estar a ser desencadeada por situações que estejam a ocorrer na vida da criança, estando a criança com dificuldades em lidar com isso e em expressar os seus sentimentos.

- Os Comportamentos Disruptivos são uma questão frequente na escola, mas não são exclusivos de crianças com hiperactividade; estes comportamentos podem ocorrer quando as crianças se sentem frustradas, quando têm dificuldades em lidar com a autoridade ou quando procuram a atenção do adulto (para estes casos, a medicação para a hiperactividade não é adequada, podendo existir outras formas de controlo comportamental).

- As Dificuldades de Aprendizagem afectam o desempenho escolar em algumas áreas e como tal, a criança pode estar menos atenta na realização dessas tarefas ou mesmo adoptar um comportamento evitante, fugindo a este género de trabalhos. 

Além de estes comportamentos, podemos nomear outro ainda que podem ser confundidos com hiperactividade; daí a impotância da criança ser vista como um todo (emocional, social, individual) para poder ser compreendida também no seu todo.

Autismo

O Miguel entrou na sala pela mão da mãe; na outra mão trazia um carrinho. Ao aproximarmos dele, emite um grito e esconde-se atrás da mãe. Quando lhe falamos, não responde; os seus olhos passam por nós para depois continuarem pela sala. Não gosta que estranhos lhe toquem ou mexam na sua mochila (vai demorar algumas semanas para nos entregar aquilo que segura). É uma criança bonita, de cabelos negros, lisos e ligeiramente comprido. Tem um diagnóstico de Autismo.

O Autismo é classificado pelos Manuais de Diagnóstico de Doenças Mentais (DSM-IV e ICD-10) como uma perturbação global do desenvolvimento infantil. Manifesta-se cedo (em bebé) e prolonga-se para a idade adulta. Esta perturbação manifesta-se em três áreas: social, linguagem e comunicação, pensamento e comportamento.

Social:  a criança tende a isolar-se e não mostrando interesse pelos outros; pode interagir de forma estranha, evitando o contacto ocular; pode não ter iniciativa ou não responder à iniciativa dos outros. A criança não compreende a expressão facial do outro, não percebe as pistas sociais (olhar, expressão zanga, …). Ausência de empatia.

Linguagem e Comunicação: apresenta dificuldades em comunicar, em construir frases ou organizar o pensamento; pode fazer ecolália (repete os mesmos sons) ou repetir frases construídas mas fora de contexto («papaguear»); dificuldade em iniciar ou manter uma conversa;

Pensamento e do Comportamento: fraca imaginação, dificuldades em brincar; não gosta que alterem as rotinas, pode apresentar preferência por um objecto em particular ou por alguns movimentos repetitivos (sacudir as mãos, balancear-se, …).

As razões para a origem desta perturbação não estão ainda esclarecidas; coloca-se várias hipóteses, tais como a possibilidade de existirem factores hereditários ou anomalias cerebrais, mas a verdade é que podem surgir em qualquer família, classe social, educação ou país.

Psicologia Infantil

1.INTRODUÇÃO

Psicologia Infantil é o estudo do comportamento infantil que inclui características físicas, cognitivas, motoras, lingüísticas, perceptivas, sociais e emocionais, desde o nascimento até a adolescência. As duas questões básicas para os psicólogos infantis são: determinar como as variáveis ambientais (o comportamento dos pais, por exemplo) e as características biológicas (as predisposições genéticas) interagem no comportamento e estudar como essas mudanças se relacionam e influem mutuamente.

2.ESTUDO CIENTÍFICO

No século XIX, a teoria da evolução de Darwin impulsionou o exame científico do desenvolvimento infantil. O instinto de sobrevivência das muitas espécies animais estimulou o interesse pela observação das crianças, para identificar as diferentes formas de adaptação ao ambiente e o peso da herança em seu comportamento. Em 1916, Lewis Terman introduziu o teste de inteligência (teste de Stanford–Binet), que conduziu a uma série de estudos sobre o desenvolvimento intelectual da criança. Na década de 1920, Arnold Gesell analisou o comportamento infantil através de filmagens, nas quais as crianças foram observadas em idades diferentes, estabelecendo pela primeira vez um desenvolvimento intelectual por etapas, semelhante ao seu desenvolvimento físico.

3.ESTUDOS AMBIENTAIS

Sigmund Freud insistiu no efeito das variáveis ambientais e na importância do comportamento dos pais durante a infância dos filhos. John B. Watson, principal representante do behaviorismo, analisou as variáveis ambientais como estímulos progressivamente associados a respostas. No início da década de 1960, Jean Piaget utilizou métodos de observação e experimentação que integram variáveis psicológicas e ambientais.

4.TEORIAS EVOLUTIVAS OU DE DESENVOLVIMENTO

As teorias evolutivas relacionam características do comportamento com etapas específicas do crescimento. A teoria freudiana da personalidade e a teoria da percepção e cognição de Piaget são as principais. Ambas explicam o desenvolvimento humano em termos interativos. Segundo Freud, uma personalidade sadia baseia-se na satisfação de necessidades instintivas. Por sua vez, Piaget afirmou que, desde o nascimento, os seres humanos aprendem ativamente, inclusive sem incentivos externos.

5.DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Os diversos aspectos do desenvolvimento da criança abrangem o crescimento físico, as mudanças psicológicas e emocionais e a adaptação social. Existe uma concordância geral de que os modelos de seu desenvolvimento estão determinados por condições genéticas e circunstâncias ambientais: existe um componente genético nas características da personalidade; o crescimento físico depende da saúde; até os dois anos de idade, ocorrem as mudanças mais drásticas na atividade motora. A velocidade para adquirir estas capacidades é determinada de forma congênita. Destaca-se a capacidade para compreender e utilizar a linguagem: Noam Chomsky estabeleceu que o cérebro humano está especialmente estruturado para isso, porque esta capacidade não requer uma aprendizagem formal e se desenvolve desde que a criança tem seus primeiros contatos com o mundo exterior. Por outro lado, a formação da personalidade é considerada um processo pelo qual as crianças aprendem a evitar os conflitos e a administrá-los quando aparecem. Os pais excessivamente austeros ou permissivos podem limitar as chances de uma criança tentar evitar ou controlar seus problemas. Está claro que as atitudes dos pais e seus valores influem no desenvolvimento dos filhos. As relações sociais infantis supõem interação e coordenação dos interesses mútuos, onde são adquiridos modelos de comportamento social através dos jogos. Além disso, a criança aprende a necessidade de um comportamento cooperativo e de uma organização para alcançar objetivos em grupo. As crianças aprendem o que é aceitável e inaceitável no seu comportamento e, mediante a socialização, conhecem o conceito de moralidade. O pensamento moral apresenta um nível inferior (a regra se cumpre sozinha para evitar o castigo) e um superior (a pessoa compreende racionalmente os princípios morais universais necessários para a sobrevivência social).

6.TENDÊNCIAS ATUAIS

Atualmente, os psicólogos concordam que determinados fatores de risco biológico, como crianças que nascem abaixo do peso normal, a falta de oxigênio antes ou durante o parto e outros problemas físicos ou fisiológicos, são importantes para o seu desenvolvimento e comportamento posteriores. Também se investiga o papel das variáveis cognitivas na aprendizagem dos papéis sexuais e os estereótipos sobre as diferenças de sexo. Os modelos sexuais foram definidos na nossa cultura, mas a pressão favorável para a mudança destes modelos está rompendo pouco a pouco estes estereótipos, permitindo que um indivíduo mude ou adapte seu comportamento às exigências das situações específicas com as quais vai conviver.